quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Dialética Chefe-Estagiário

Contexto: produção da Mostra Paulo Emílio: Uma Homenagem
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Antes de tudo, ela era a que menos acrescentava enquanto na mesa estavam sentados mais 3 idiotas, inclusive eu. E quanto ao passado, ela o adorava, divinizava-o, esquecendo-se descuidada que o momento presente deixava vazar a decadência aos poucos, entorpecendo o ambiente até que se tornasse impossível de não percebê-la, ou percebê-las, ela e sua derrocada!
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Agora, para que a escrita surta o efeito de auto-terapia, refiro-me a ela como você!
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Sobre o passado e seus intelectuais, se você enxerga no tempo que já passou a perfeição, os intelectuais monumentais que nunca mais serão vistos, é simplesmente porque não o vive mais, e não possui a habilidade de lembrar os dias que passaram de maneira complexa. A glorificação do passado é para simplistas, seu descuido é tão grande que não percebeu que simplifica a vida tanto quanto o cinema americano que você odeia. E se você não consegue enxergar intelectuais louváveis nos dias de hoje, é simplesmente pelo fato de você ser mal informada.
Sobre a capa de chuva de plástico grosso e amarelo que sua mãe trouxe da Inglaterra, espero que você ainda a tenha, pessoas como você precisam de artifícios de proteção. Pessoas que nunca vão encarar a chuva como algo feito para molhar!
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Sobre a frase que você dirigiu a mim, tentando enfiar goela abaixo uma relação de provação que, pasme!, eu não tenho nem para comigo mesmo. “Isso é a sua prova de fogo!”, você disse. Digo que isso é reflexo do que você mesmo buscou para a sua vida: uma agenda telefônica com contatos estratégicos, contatos que permitam a você furar a fila na Cinemateca, Cinemateca que nem tem um vasto catálogo! Tudo isso por causa de uma idéia de última hora, já que você esqueceu a data do aniversário de morte do seu intelecutal-perfeito tão querido! Infelizmente, no momento em que sua frase foi dita, eu me despreguei e me entreguei à deriva novamente.(ponto!) Sem objetivos, sem vontade de te impressionar, sem preocupações com a imagem que você vai formular, talvez, com um repertório de conceitos pobres. Não pretendo pré-julgar as pessoas, mas você me fez ter vontade de desabafar hoje, e isso é permitido. Ao primeiro sinal de uma dominação que pretende se instalar, eu corro rápido, treinado que fui nas relações mais terríveis. Sigo driblando com destreza as sutis amarras que ao menor descuido se emaranham nos pés de todos, é o meu forte, para permanecer livre...

domingo, 5 de agosto de 2007

Teoria Crítica e Situação Crítica

Há tempos sem escrever sobre minhas peripécias na universidade, volto tentando achar um link com o post anterior. Na verdade não foi difícil achá-lo, a greve fez com que mudasse o prazo de entrega do meu TrabalhoFinaldeTeoriaCrítica para 31 de julho, então, durante essa seamana que passou, estive envolvido em fazê-lo.
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Ah a mediocridade! Eu passei o semestre inteiro envolvido de maneira empolgante com aquela matéria, mas, de alguma forma, toda essa destreza em lidar com a Teoria Crítica se esvaiu em duas semanas de férias e, quando retornei para fazê-lo no final de Julho, decidi forçadamente um tema, mal delimitado é claro, para que eu pudesse começar a escrever algo nos poucos dias que tinha para fazê-lo. Aliás, que fique destacado aqui a minha dificuldade estrutural para a arte de delimitação de temas. Na verdade surgiu um tema na minha cabeça, eu queria escrever sobre A Melancolia de Esquerda, mas como meu seminário havia sido sobre Walter Benjamin, fui impedido por regras protocolares. O que deveria ser um grand finale de início de incursão na Teoria Crítica acabou tornand0-se um holofote para a minha situação crítica.
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O trabalho ficou um lixo e eu entrei em crise de novo com o meu desempenho acadêmico, simples assim.

terça-feira, 22 de maio de 2007

17 de Maio de 2007, Aula de Teoria Crítica da Sociedade, Reitoria Ocupada


Passei uma noite e uma tarde lendo o texto para a aula de Teoria Crítica da Sociedade, texto intrigante e intrincado, segundo o Fred ele aplicou o método dialético na escrita do texto. Isso me irrita muito.
Enfim, o texto, Teoria Tradicional e Teoria Crítica de Horkheimer, é daqueles que te obrigam a ler e reler, pois tem-se a leve impressão de que o autor está tratando de coisa muito fundamental, que uma vez lida, te jogará em um ponto sem retorno na sua vida... De fato, entendendo pouco do texto lendo por mim mesmo, acabo percebendo que se trata de recolocar a práxis social na ciência, ao memso tempo que quer recriar o marxismo como tradição teórica... superar a dicotomia do pensamento e da ação!
Daí, partindo de um parágrafo sobre o pensamento para a ação, ontem os estudantes em assembléia geral deliberaram greve dos mesmos, os funcionários encontram-se em greve também desde ontem.... Barricadas foram colocadas no corredor da FFLCH para que se impedisse os alunos de terem aula.... (obs: na França minha amiga Talita disse que era ainda pior, além de não deixarem você ter aula, prendiam-te numa sala obrigando-te a participar da assembléia!)
Dei uma volta e peguei uma discussão de um professor acusando o movimento estudantil de anti-democrático, que na época dele não havia greve forçada, as pessoas aderiam a greve porque de fato havia necessidade de greve, como um espírito aéreo que paira e dá o momento exato de uma mobilização geral! Aliás, cansa-me as analogias com o período extremo da ditadura, haverão mais períodos extremos como esse? Ou há novas maneiras de se conseguir o que quer hoje em dia? Maneiras menos atritivas? Apesar de no momento daquela discussão estar pendendo levemente para apoiar os estudantes, continuei confuso, ainda remetendo o meu pensamento a uma discussão lida no dia anterior: os decretos realmente ferem ou não a autonomia universitária? Ali via a materialização forte e antagônica das duas opiniões... Tudo que é passível de materialidade e se efetiva ganha a minha atenção!
Daí meu professor, Ricardo Musse, chegou para conversar com os alunos e decidir o que faríamos, como as salas estavam inacessíveis, começamos a conversar no corredor da FFLCH mesmo, fez-se um círculo de alunos rápido em torno dele e eu não conseguir ouvi-lo mesmo estando perto - Como ele fala baixo! De repente um barulho que tomou a atenção de todos, um barulho de sirene de polícia se aproximando do prédio da Ciência Política, as pessoas se entreolhavam, titubeando entre o absurdo da situação (uma viatura entrando dentro de um prédio) e a dúvida do que seria aquillo, daí, eis que surge um aluno com um megafone, além do barulho de sirene ele começou a gritar que estávamos em greve, atrapalhando as poucas aulas que conseguiram se iniciar... Com o barulho, ficara ainda mais impossível de ouvir o professor e os alunos da rodinha decidindo o meu destino. Então houve a proposta de irmos pra fora pra discutir o que queríamos fazer.
Lá fora formou-se um círculo e houve o encaminhamento de duas propostas, ter aula na reitoria, como uma atividade de greve, e não ter aula e acompanhar as outras atividades de greve que estavam acontecendo no dia (palestra do Paulo Arantes no Conselho Universitário). Além disso, ficou-se decidido que semana que vem, o professor Musse se disporia a dar atividades de greve, pois ele acha que a greve possui um problema originário de lógica, a greve pressupões o seu esvaziamento pois os alunos não vem mais à universidade. Minha opinião se fez clara nessa hora, eu era a favor da ocupação e contrário a greve, pude efetuar uma distinção entre as duas coisas, coisas que pareciam fundidas em um mesmo bloco, senti uma vontade de haver um método de pressão criativo e efetivo e também senti a vontade de que esse método já estivesse pronto por alguém, uma proposta já feita e explicada, pois não me vinha nada à cabeça e não me sentia capaz de criar essa nova proposta... Enfim, decidimos por ter aula na reitoria, por 10 votos a 0 da outra proposta, as pessoas sabiam que se se deliberasse por acompanhar as outras atividades de greve, muita gente iria embora...e o que estava tentando se evitar ali era justamente o esvaziamento.
A aula foi memorável, o texto permitia tocar na própria questão da reitoria ocupada, que o professor se posicionou a favor, pelo fato de a reitora ter colocado que não negocia sob pressão (para ele algo que deve sim acontecer numa democracia) e pelo fato de ela estar agindo como latifundiária, pedindo a reintegração de posse da reitoria.... A explanação do professor sobre o texto foi muito profunda, entrando em muitos detalhes, no final, fecha dizendo que a dimensão prática da Teoria Crítica é no máximo a epxeriência social do inconformismo, do qual aquela ocupação era um exemplo...